A Dependência Europeia da China – Importação de CO2 e Energias Renováveis

Podemos falar de estratégias regionais de combate ás alterações climáticas, através da reconversão dos sistemas de energias e redução das emissões poluentes, no entanto, a crise climática é um problema global, o que nos remete para a reflexão sobre as interdependências regionais em matéria de produção\importação e consumo de bens, tal como para análise dos investimentos realizados para o alcance das metas. Neste âmbito, consideramos interessante olhar para a relação entre China e a Europa.

É factual que a China é o país que mais contribui para o nível de emissões na atmosfera. A chamada fábrica do mundo á muito que ganhou a dianteira nesse plano. No entanto, uma boa fatia dessas emissões, traduzem-se em exportações da China para o mundo, algo que por sua vez se traduz em importações de CO2 por parte de quem importa. No gráfico abaixo é possível perceber a dimensão da inter-relação entre a China e a Europa e EUA. A China responde a 21% das importações Europeias, sendo o seu maior parceiro único. Já em matéria de exporação, o mercado preferencial da Europa, são os Estados Unidos, que correspondem a 20% das exportações europeias.

Legenda: Importações e Exportações Mundiais, peso relativo da China no Mundo. Fonte: (Eurostat).

Se a Europa e Estados Unidos já não controlam os factores produtivos, perdem o controlo sobre o nível de emissões do seu consumo. Ora este aspecto, no nosso entender tem duas soluções possíveis, ou o que a China produz e depois exporta, começa a emitir menos CO2, ou os países que importam os bens provindos da China, carregados de uma elevada pegada ecológica, deixam de o fazer. 

A soluçõe de substituir essas importações por produção interna, teria um efeito positivo duplo, na medida em que, tanto reduzia as emissões da produção dos bens, como do seu transporte. 

Em último caso, existe sempre a possibilidade de dar preferência na escolha da origem da importação bens, a regiões ou países, onde a pegada ecológica seja inferior. O que no nosso entender será díficil, dada a concentração industrial na China, ou mais recentemente na Índia. 

No gráfico abaixo é possível compreender a ordem de grandeza do nível de emissões, e a diferença entre a China, Europa e Estados Unidos. Sendo que também permite avaliar a recente tendência da Índia. Por último, o gráfico também ajuda a compreender a transferência de emissões, na medida em que o crescimento das emissões na China, deram lugar a um desaceleramento e inversão do nível de emissões na Europa e Estados Unidos.

Legenda: Emissões anuais de CO2. Fonte: (OurWorldinData).

Actualmente, não só não existe uma alternativa viável á China, como não existe capacidade produtiva na Europa para corresponder aos seus níveis de consumo. 

Seja como for, por mais sentido que faça responsabilizar a China pelos níveis de poluição, convém á União Europeia e ao restante Ocidente, fazer um mea culpa, dado que, a poluição pode estar a ser realizada na China, mas a sua origem está na procura de bens na Europa e no resto do Mundo. 

Os dados apresentado em baixo, medem a quantidade de CO2 que é importado por parte dos países identificados na lista. No nosso entender os dados ajudam a compreender dois fenómenos, o primeiro, a maior/menor dependência de importações, que pode estar ligada a necessidades energéticas ou a um fraco sector industrial, e o segundo, a forma como alguns países recorreram as importações para reduzir as suas próprias emissões domésticas. Vejamos com curiosidade as percentagens dos países nórdicos (Noruega, Dinamarca, Suécia), considerados muitas vezes, como exemplos em matéria climática.

Legenda: Percentagem de emissões de CO2 emitidos no exterior para satisfazer o consumo interno de cada País. Fonte: (OCDE).

Os dados apresentados no gráfico acima são bastante clarividentes. O que tem acontecido nas últimas décadas, é uma transferência das emissões de países desenvolvidos, para países em desenvolvimento, principalmente a China, ou a Índia. 

Quando olhamos para as iniciativas verdes Europeias, ou nacionais, é importante não esquecer estes dados, tal como é importante questionar sobre o que tenciona, a UE ou os EUA, fazer para reduzir o volume de CO2 que importam.

Esta transferência trouxe também consigo, um certo nível de dependência económica, algo que reforça a dimensão da questão. Tal dependência tem vindo a aumentar, dificultando cada vez mais a hipótese de um afastamento\substituição dos actuais parceiros comerciais europeus.

Legenda: Importação de bens de consumo da China, em percentagem do PIB. Fonte: (Eurostat).

Sabemos que a transição energética e a preocupação ambiental já chegaram ás grandes economias mundiais. No entanto, se China tem o mais longo caminho a percorrer, a verdade é que o está a fazer bastante mais depressa que o resto do Mundo. 

Curiosamente, se fizéssemos um exercício simples, ao supor que a Europa teria agora de substituir todas as suas importações, por produção interna, não só não teria a capacidade industrial para o fazer, como a sua estrutura energética (em matéria de rácio entre energia limpa ou fóssil) já se encontra bastante atrasada face á da China, o que permite concluir que os níveis de emissões, que dizem respeito ao consumo Europeu, ultrapassariam os níveis actuais.

Vejamos abaixo nos dados, a diferença já evidente, entre o peso das energias renováveis, nas diferentes economias europeias, nos EUA, na Índia e a China:

Legenda: Percentagem de fontes de energia renovável no consumo total de energia. Fonte: (Eurostat).



Legenda: Volume em GigaWatts de energia renovável, China, EU, EUA e India. Fonte: (IEA).

Legenda: Volume total e percentagem de energia renovável do mix energético na China. Fonte: (China Electricity Council).

Se nível de dependência industrial já era amplamente conhecido, agora a Europa e os Estados Unidos, estão também dependentes da China, para a transição energética também. 
 
Será que as metas dos planos de acção para a transição climática europeus e americanos contabilizam estes dados?
 
A UE e o EUA talvez tenham a tarefa facilitada, ao lidar com as suas emissões internas, dado que elas escondem toda uma quantidade de emissões externalizadas. 
 
Aparentemente, não parece ser necessário á UE e aos EUA fazerem muito quanto á pegada ecológica do seu próprio consumo, dado que a China, até no investimento de energias renováveis, já os ultrapassou. O que permite aferir que num futuro próximo, o nível de emissões do consumo europeu e americano possa reduzir, não porque o consumo reduziu, não porque ambos fizeram um fortissimo investimento na descarbonização da suas economias, mas apenas porque a China passou a produzir os bens que ambos importam, com menores emissões.

Da próxima vez que ouvirmos que a União Europeia tem liderado o processo das preocupações climáticas e da transição energética, convém lembrar estes dados.


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