Consumo de Energia Residencial – Eficiência Energética e Outros Factores
O sector doméstico representou em 2021, cerca de 27% do consumo final de energia, ou 18,6% do consumo interno bruto de energia na União Europeia. Tendo sido este consumo repartido por vários tipos de fontes de energia, nomeadamente: o gás natural, que representou 33,5% do consumo final de energia; a eletricidade, que representou 24,6%; as energias renováveis e os resíduos que representaram 21,2% do consumo, e por fim o petróleo e produtos petrolíferos em 9,5%. Sendo que o principal factor gerador de consumo é o aquecimento doméstico, que representa cerca de 65% do consumo total (Eurostat).
Atendendo á importância e peso do consumo doméstico, parece relevante tentar compreender as suas tendências.
Um dos factores que mais tem influênciado o consumo doméstico, é a regulamentação em matéria de eficiência energética dos equipamentos. Este conceito nasce de normativas governamentais introduzidas na grande maioria das economias mundiais, que procuram criar padrões de exigência para uma maior eficiência energética nos dispositivos eletrónicos, domésticos ou industriais. Tais normativas procuraram criar expectativas e exigências na entrada de novos produtos no mercado. Este conjunto de normativas, já conseguiu que o nível de eficiência dos produtos, se tornasse um no factor mais decisivo no posicionamento dos produtos em mercado. Ao mesmo tempo, a certificação e rotulagem energética, ofereceu ao consumidor, informação sobre as diferenças no consumo de cada tipo de produto disponível no mercado, induzindo o consumo para bens de maior eficiência energética, muitas vezes até alvo de políticas públicas de incentivo á compra.
E porque é importante já hoje, o nível de eficiência dos produtos, e porque será amanhã?
Legenda: Distribuição do consumo doméstico por categorias. Fonte: (Eurostat).
Segundo a Agência Internacional da Energia, apesar de estar prevista uma redução global na procura global de energia, o cenário de Net-Zero até 2050 prevê que a procura global de eletricidade mais do que duplique até 2050. Só em 2021, a procura de eletricidade aumentou quase 5%.
Grande parte do crescimento do consumo de eletrecidade a longo prazo ocorrerá através do alargamento da rede de eletrificação para utilizadores finais, e da conversão energética para o uso da eletricidade, de sectores como os transportes, o aquecimento residencial ou a indústria. No entanto, o conjunto
de produtos e de equipamentos de uso mais familiar, ou doméstico
(telemóveis, máquinas de lavar, secar, frigoríficos, congeladores,
televisão, computador, entre outros equipamentos comuns de uso
particular ou doméstico) continuam a ser os grandes responsáveis pelo aumento da procura actual e futura.
Hoje já é perceptível o efeito das políticas promotoras de uma maior eficiência energética. No entanto, atendendo á evolução crescente do consumo, a eficiência energética será determinante no futuro.
Contribuindo hoje, os equipamentos domésticos, para uma percentagem significativa do consumo total de eletricidade, o caminho que tem sido desenvolvido para torná-los mais eficientes, revelou ter um forte impacto na procura total de eletricidade.
Segundo a Agência Internacional da Energia, os países que introduziram normas mínimas de desempenho energético mais cedo, alcançam já hoje poupanças de eletricidade de cerca de 15%, no consumo total de eletricidade por ano. Estas poupanças vão aumentando todos os anos, à medida que o stock de produtos mais antigo e menos eficiente, é substituído por equipamentos que cumprem padrões de eficiência mais elevados. Esta transformação permite, já aos países mais avançados neste âmbito, uma redução de emissões nacionais de CO2 entre 7% a 10%.
Nos gráficos abaixo, é possivel compreender os níveis de redução no consumo energético total por país, como compreender em que produtos esse nível de redução foi mais acentuado.
Legenda: Percentagem de poupança energética média, em função dos produtos actualmente em uso no mercado. Fonte: (EIA).Legenda: Percentagem de poupança anual obtida através da política de padrões de eficiência energética, por país. Fonte: (EIA).No entanto, segundo um estudo realizado em 2019, liderado por Sofia Tzeiranaki, e restante equipa de investigadores, que procurou analisar os dados do consumo final de energia na União Europeia, foi possível aprofundar o conhecimento sobre esta matéria.
Neste estudo é evidente a redução do consumo de energia final, no entanto os autores identificam os factores mais determinantes para a evolução do consumo. Sendo que a intensidade de energia (conceito que se traduz na quantidade de energia para obtenção de X resultado, em suma, a eficiência energética) é um factor determinante, não está sozinho nesta equação, tal como, podem existir factores que induzem o aumento do consumo, nomeadamente o nível de riqueza, ou o aumento populacional.
Legenda: Consumo de energia residencial per capita EU28. Fonte: (Tsemekidi Tzeiranaki, et all., Energies 2019).Legenda: Consumo de energia residencial per capita EU28, evolução de 2005 a 2016. Fonte: (Tsemekidi Tzeiranaki, et all., Energies 2019).
Legenda: O peso dos factores explicativos para a evolução do consumo residencial UE28. Fonte: (Tsemekidi Tzeiranaki, et all., Energies 2019).
A interpretação dos dados permite aferir que tendencialmente, os países mais pobres tendem a consumir menos energia per capita. Os países a sul consomem menos energia per capita, e em sentido oposto, os países a norte, consomem mais energia. Este último aspecto vai de encontro aos dados referidos anteriormente, que sustentam a ideia de que o aquecimento é o maior responsável no leque de consumo de energia doméstico. Os dados revelam, em concordância com os anteriormente apresentados, uma tendência de redução contínua, no consumo de energia doméstico em todos os países da UE.
O estudo analisou também os efeitos positivos e negativos que influenciam o consumo final de energia. As suas conclusões remetem para a ideia de que, os níveis de riqueza estão correlacionados com o aumento do consumo, tal como o aumento populacional, apesar deste último, ter um menor efeito.
O factor riqueza pode estar correlacionado com o maior consumo de energia nos países nórdicos, tendencialmente mais ricos que os países do sul, e com maiores necessidades de aquecimento. No entanto a variável também tem em consideração os m2 de cada habitação e o seu consumo, tal como tem em consideração as flutuações de crescimento económico a nível nacional. Assim, foi possível aferir que mesmo em países mais pobres, casas maiores, associadas a um maior poder de compra, consomem mais energia, tal como, em períodos de crescimento económico o consumo de energia também aumenta nos países mais pobres. Logo, os níveis de riqueza estão associados ao aumento do consumo de energia, seja através de uma menor preocupação com a poupança; aumento do número de equipamentos; ou aumento do conforto.
Em matéria de efeitos positivos, que ajudam a reduzir o consumo energético doméstico, destaca-se a intensidade energética, ou seja, o grau de eficiência energética dos equipamentos utilizados, como o factor que mais ajuda na redução do consumo.
Em segundo lugar, o estudo identifica o clima como factor na redução do consumo. Este dado é especialmente interessante, na medida em que, a redução do consumo é importante para o combate ás alterações climáticas, no entanto, uma das consequências das alterações climáticas (o aquecimento global), tende a contribuir para reduzir o consumo de energia.
Concluindo, as normativas introduzidas no mercado tiveram um resultado evidente na redução do consumo doméstico de energia. Criaram uma economia de inovação baseada na eficiência energética, etiqueta que é cada vez mais preponderante na escolha de produtos eletrónicos ou domésticos.
No entanto, embora o caminho percorrido seja positivo, convem sublinhar que existem factores que continuam a condicionar melhores resultados. Nomeadamente o crescimento populacional e os níveis de riqueza.
Se estes dois fenómenos já estão identificados a nível Europeu, devemos considera-los também relevantes quando analisamos este fenómeno, a nível global.
Com as economias emergentes a conquistar o seu devido espaço no panorama global, é de esperar um aumento no número de produtos domésticos, originando um aumento do consumo de energia. Conjuntamente, o aumento populacional mundial também irá contribuir para o aumento do consumo.
Por fim, deveriamos nos questionar, em que medida, a inovação tecnológica em matéria de eficiência energética, já não poderá estar perto de atingir a máxima eficiência possível, face a tecnologia existente. E se novas soluções e inovação poderão vir a ser necessárias neste âmbito, dado que o aumento populacional e de riqueza no mundo, poderão ofuscar os resultados obtidos pela melhoria da eficiência.
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