Negacionismo Climático de Trump - Uma Reedição para 2024 de Políticas Potencialmente Anti-Patrióticas
Trump e o seu negacionismo climático não são notícia, no entanto, com o aproximar das eleições americanas em novembro de 2024, e tudo apontando para que Trump venha a ser o candidato republicano, é relevante olhar para o que Trump fez no seu mandato em matéria climática, e o que hoje já se prevê que Trump venha a fazer, ou a desfazer, caso seja eleito.
No primeiro mandato de Trump, assistimos a um retrocesso em matéria de política ambiental, energética e climática.
- Com o grande objectivo de tornar os EUA a maior potência energética, e independente de terceiros, Trump reforçou a aposta na utilização de combustíveis fósseis, e para tal anulou muitas das regulamentações ambientais em vigor, muitas delas introduzidas nos mandatos de Barack Obama;
- No final do mandato de Trump, a sua administração tinha revogado 98 regras e regulamentos ambientais, e deixou em curso 14 reversões, que apenas não se confirmaram, devido á sua derrota nas eleições de 2020;
- A administração Trump apoiou a prospeção e perfuração de gás e petróleo em terrenos públicos, em florestas nacionais, perto de monumentos e parques nacionais;
- Trump aprovou a maior expansão de área marítima para prospeção de energias fósseis e permitiu que toda a planície costeira do Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, fosse aprovada para perfuração;
- Trump abandonou o acordo climático de Paris, passando os EUA a ser o único país que não fazia parte do acordo;
- A administração Trump substituiu o Plano de Energia Limpa de Obama por uma nova lei denominada de Energia Limpa Acessível, que não limitava emissões de carbono. Conjuntamente, emitiu novos padrões de emissões poluentes em veículos, que resultariam em bilhões de toneladas adicionais de dióxido de carbono libertado para a atmosfera;
- Por fim, a administração de Trump, desregulamentou padrões de exigência e segurança em matéria de uso de químicos, e aboliu a Clean Water Rule, lei criada em 2015, que procurava proteger e combater a poluição de cursos de água e pântanos.
A agência de notícias Reuters, entrevistou membros do partido republicano americano, próximos de Trump, que afirmam que caso Trump vença as eleições, existem já algumas expectativas sobre o que este venha a fazer, ou a desfazer, em matéria climática e de energia.
- Trump voltaria a entrar na Casa Branca com uma série de ordens executivas para expandir a prospeção de petróleo, gás e carvão nos Estados Unidos.
- Pôr fim á legislação de Biden, de incentivo sobre o mercado de carros elétricos, que se propõe a atingir a meta de 50% de carros novos vendidos nos EUA em 2030 sejam elétricos. A acompanhar esta medida foram também destacados fundos públicos para criar 500.000 locais de carregamento eléctrico automóvel a nível nacional.
- Trump tenciona também terminar com os apoios á indústria de baterias para locomoção elétrica automóvel, tal como terminar com os estímulos financeiros á aquisição de carros elétricos.
- Também será considerada a hipótese de reversão de políticas de incentivos fiscais para projectos de energias renováveis e equipamentos eficientes, e financiamento para programas de justiça ambiental.
- A administração Trump sairá novamente do acordo climático de Paris, de onde já tinha saído durante o primeiro mandato de Trump. Decisão essa revogada por Biden que voltou a entrar no acordo em 2021, depois de ser eleito.
- Terminar com a proibição temporária de exportação de LNG (gás natural liquefeito).
- Nem todo o programa de Biden, denominado de Inflation Reduction Act (IRA), será revogado por Trump, atendendo que algumas das suas medidas, como créditos fiscais destinados a projectos de captura e sequestro de carbono ou para o fabrico de hidrogénio verde, tornaram-se bastante populares no seio das empresas da indústria de petróleo e do gás. Mas não apenas por isso, estas empresas estão localizadas tendencialmente em Estados americanos republicanos, o que tornará politicamente mais dificil para Trump eliminar estes apoios. Nós na Economia Sustentável, já tínhamos referido noutra publicação, esta preocupação geográfica na lei de Biden, que procurou promover mais investimento e apoios á transição energética, em Estados com uma maior densidade de empresas ligadas ás energias fósseis.
Segundo a Energy Innovation - Policy and Technology LLC, a mudança de política energética nos Estados Unidos, conforme quem seja eleito, trará resultados bastante distintos:
Legenda: Projeções de níveis de emissões sob as futuras administrações Trump ou Biden. Nota: A projeção de Trump pressupõe uma revogação das regras do IRA e da EPA e sem nenhum novo subsídio aos combustíveis fósseis. Fonte: ( TheGuardian, Dados obtidos de: EnergyInnovation).
Rematamos este tema, considerando que Trump pretende retomar o ciclo de políticas de energia, baseadas no fóssil, sem ter em consideração qualquer meta climática.
Atendendo que as políticas energéticas de transição, já deixaram de ser apenas políticas de preocupação climática, mas se tornaram essenciais no posicionamento futuro das economias mundiais, em matéria de competitividade energética, esta não nos parece uma escolha acertada. A própria ideia de um país conceber e reverter as suas políticas de 4 em 4 anos, compromete o seu desenvolvimento.
Trump defende a sua aposta, alegando querer criar nos Estados Unidos, o mercado com a energia mais abundante e barata do mundo. Defendendo que tal resultado, se traduzirá em poupanças para o cidadão americano. No entanto, se considerarmos a sua política em matéria de locomoção elétrica, tal não faz sentido, dado que a electricidade dificilmente é já hoje mais barata que os combustíveis fósseis. Ou mesmo, a sua posição sobre o levantamento das exportações de gás.
Biden introduziu a proibição temporária á exportação de LNG, para salvaguardar a indústria e os consumidores americanos. Dado que a concorrência externa poderia absorver parte da produção, criando pressão no preço da matéria-prima, algo que resultaria no aumento do preço do gás para os consumidores finais e para a indústria americana. Biden também procurou proteger o preço do gás por forma a facilitar a conversão para o gás, de indústrias que hoje ainda dependam de carvão ou petróleo. Sendo o gás natural liquefeito, uma energia menos poluente, mais barata e menos sujeita a oscilações de mercado (por exemplo o caso com o petróleo e a influência da OPEP).
Remover incentivos á transição energética verde, e reforçar a aposta no fóssil, parece hoje, uma política do passado, que pode custar caro aos EUA a médio-prazo.
Legenda: Comparação de custos nivelados de energia – geração histórica em meios de produção profissional, ou em escala, não domésticos ou individuais. Fonte: (Lazard).Vejamos que, como já apresentado numa das nossas publicações, a China já domina a indústria de manufactura de equipamentos de energia renovável (baterias, painéis solares, aeólica), como já se destaca na produção de energia renovável.
O gráfico acima ajuda a explicar porque motivo podemos considerar as posições de Trump como anti-patrióticas. Privar a economia americana das energias mais baratas do mundo terá os seus custos em matéria de competitividade, abundantes que sejam as reservas de petróleo ou gás americanas, dificilmente vão conseguir competir com uma energia com menores custos de implementação, menores custos de operação, e consequentemente, com rácios de retorno do investimento mais rápidos. Incentivar as empresas americanas a continuar a apostar em energia fóssil é condená-las á necessidade de recuperar o seu investimento perante um cenário mundial de aponta para a transição energética, e que apresenta no mercado preços mais baixos. Tal estratégia, também levará ao atraso dos EUA em matéria de inovação, deixando para a China o controlo total do mercado.
Já para os consumidores americanos, poderá significar, que a médio-prazo, terão de suportar uma factura energética superior, face aos consumidores de outros países (dado estes usufruirem de uma maior preponderância de energia renovável e mais barata, no seu mix energético), seja através do seu consumo doméstico, seja através de custos de mobilidade.
Não esquecer por fim, os custos reputacionais para os EUA na esfera internacional, como também, prováveis custos comerciais, seja pela inexistência de uma industria forte americana em matéria de equipamentos renováveis, seja pelas políticas de discriminação positiva, na aquisição de bens com menor pegada ecológica, que tém vindo a ser adoptadas por empresas e Estados a nível mundial.
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